"Raios partam os dias
zangados. Nada há que se possa fazer para fugir deles. Esperam por nós, como
credores ajudados por juros injustificáveis, para nos cortarem a fatia do nosso
coração que lhes cabe.
Não são como os dias tristes, que não conseguem habituar-se
a uma realidade qualquer, que se revelou, sem querer, desiludindo-nos de uma
ilusão que nós próprios inventámos, para mais facilmente podermos acreditar,
falsamente, nela. Mas assemelham-se para mais bem nos poderem magoar. Depois.
Quase ao mesmo tempo. Bem.
Quem não tem um dia zangado, em que ninguém ou nada
corresponde ao que esperávamos? A felicidade é a excepção e o engano. Resulta
mais de um esquecimento do que de uma lembrança.
Pouco há de certo neste mundo. São muitos os pobres, mas não
são poucos os ricos. As pessoas do sexo masculino não se entendem nem com as
pessoas do sexo masculino, nem com as do sexo feminino. As pessoas, sejam de
que sexo e sexualidade forem, compreendem-se mal. Dão-se mal, por muito bem que
se dêem. As mais apaixonadas umas pelas outras são as que menos bem aceitam as
diferenças, as incompreensões, os dias zangados e as noites zangadas que apenas
servem para nos relembrar que todos nós nascemos e morremos sozinhos. E que viver
é um enorme entretanto, de que devemos tirar partido, sobretudo quando há a
sorte de amar e ser amado ou amada.
Os dias zangados são dias de amor. Ninguém se zanga por
desamor. O amor sobrevive e continua, como vingança."
Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público (23 Dez 2011)
Estamos muito românticas Sónica.
ResponderEliminarAdoro o texto.
Que texto interessante :)
ResponderEliminarEu tenho muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitos dias zangados.
ResponderEliminarHumm... é bom o estado sorriso só porque sim e sentir as borboletas e tudo e tudo! :) :)
ResponderEliminarEsses dias fazem falta para aprendermos a valorizar os dias bons.
ResponderEliminarum belo texto :)
ResponderEliminar