sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

E eu sou considerada a "BoaDrasta"



Carta à madrasta da minha filha

Eu nunca te quis aqui. Aliás, nunca fizeste parte dos meus planos. Cresci e sonhei com a minha família, mas nunca estiveste incluída. Nunca quis a ajuda de outra mulher para criar minha filha. O meu plano era uma família que incluísse a mãe, o pai e os filhos. Não uma madrasta.
Eu duvido que alguma vez me quisesses na tua vida. Eu duvido que tenhas planeado ser mãe de uma criança que não cresceu na tua barriga. Aposto que o teu plano para a tua família eras tu, o pai e os teus filhos. Não eu e minha filha. Quase que aposto que quando sonhavas em vir a ser mãe, imaginavas o dia em que se rebentavam as águas, ias para a maternidade e que o teu filho ia nascer. Aposto que não planeavas tornar-te mãe no dia em que te casaste com o teu marido.
Eu tenho certeza de que tu nunca planeaste eu estar aqui.
Mas Deus tem planos que se sobrepõem aos nossos… quando a minha família se desmoronou e formou duas pequenas famílias, eu sabia que, mais cedo ou mais tarde ias aparecer.
Imaginava que serias alguém sem qualquer interesse e que a minha filha nunca te iria aceitar! Imaginava-te pouco atraente e fútil, e que a minha filha nunca te daria uma chance. O pai dela ia acabar por ter de se contentar com esta situação. No fundo eu estava em negação, porque nunca quis encarar o fato de que, outra mulher tomaria o papel de mãe da minha filha, na minha ausência.
Então tu apareceste.
Quando te conheci, vou admitir que não eras, de todo, o que tinha em mente e senti uma ponta de ciúmes. Pensava que eras uma bruxa nojenta de meia-idade, meio repugnante. Mas afinal és jovem. E gira!
Fiquei um bocado frustrada.
Percebi pelo teu olhar que para ti foi tão difícil como para mim conhecermo-nos. O meu coração ficou mais calmo. Eu tinha realmente pensado em odiar-te. Como é que arruinaste o meu plano? Eu queria ter ressentimentos, ser rancorosa mas esses sentimentos rapidamente se desvaneceram, e eu senti-me grata por existires!
Teres aceite a nossa filha desde o início e ama-la de forma incondicional foi um verdadeiro presente para todos nós. Incluis a nossa filha em tudo que fazes e por isso ela sente-se amada e aceita-te de braços abertos. Consegues pôr a relação dela com o pai acima da tua e apenas uma mulher de armas sabe como fazer isto com tanta elegância.
Eu sabia que a partir do momento que decidimos divorciar-nos e começamos a viver separados, haveria momentos em que ela ia precisar da mãe e eu não ia estar lá. Estou tão agradecida por estares lá na minha minha ausência. Obrigada por teres paciência para aturar uma pré-adolescente e nunca a rejeitares. Ela precisa de uma mãe em casa e e tu está a fazer um trabalho incrível com ela.
Respeitaste a minha posição de mãe desde o início. Agradeço a forma como te preocupas em confirmar sempre comigo se estás a tomar a decisão certa com ela. Eu sei que a nossa relação é rara. É raro uma mãe e uma madrasta trocarem mensagens de texto sobre a filha, que reforcem a relação de respeito e confiança mutua. Tu foste e és uma bênção.
Por tua causa e pela coragem de seres mãe da nossa filha da mesma maneira que eu sou, ela vai ser uma mulher melhor. Ela vai crescer com mais amor que eu jamais poderia ter imaginado. Ela não tem culpa de ter pais divorciados. Eu também nunca quis isso para a minha filha, mas agora, eu sinto-me feliz que tenha quatro pais que a amam e respeitam. E também se respeitam mutuamente. Ela cresce a saber que quando se fecha uma porta abre-se uma janela.
Eu não te vejo apenas como a pessoa que preenche um espaço quando eu não estou lá. A vossa relação vai para lá dos dias em que ela está no pai. Ela fica animada para te telefonar e contar histórias quando está em minha casa e isso faz-me saltar o coração do peito de alegria. Encho-me de orgulho quando nos encontramos e me apertas num abraço genuíno e amoroso.
Tenho a noção de como é a vida de uma criança quando uma mãe não aceita emocionalmente a madrasta de seu filho na sua vida. A sensação de gratidão transborda em mim por sermos capazes de superar qualquer coisa assim e fazer o que é realmente certo para a nossa filha. Obrigada por tua maturidade e pelo empenho em criar a nossa filha.
Comprometo-me a respeitar sempre o teu contributo para com a nossa filha. Prometo nunca menorizar o papel que tens na sua vida ou fazer com que não te sintas como mãe dela. Comprometo-me a ser sempre agradecida por sermos duas mulheres fortes e corajosas na vida dela, pois temos a coragem de sermos mãe ao mesmo tempo. Apesar na nossa situação ser tranquila, eu rezo a Deus para que ela não passe por isto na sua vida adulta, mas se por acaso isso acontecer,  eu prometo dar-lhe o exemplo de como criar um filho de pais separados.
Mulheres como tu, não há muitas.

Obrigada, e Deus te abençoe.



8 comentários:

  1. Muito bonito :) acho que é preciso ser uma mulher e mãe incrível para conseguir admitir tudo isto :)

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  2. "Mulheres como tu, não há muitas."

    E Deus te abençoe por isso...escusavas era de me fazer chorar...

    Feliz Natal minha querida!

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  3. Agora esqueço-me sempre de assinar...Mummy Suri:)

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  4. Maravilhoso este texto, e um grande exemplo!

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  5. Deveria ser assim em todas as "novas" famílias que se criam quando os casais se divorciam e têm filhos...

    Beijinhos,

    http://eutueocoelhoanao.blogspot.pt/

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  6. UAU! Simplesmente...emocionante. Compreendo-te e admiro. acredita

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